quinta-feira, setembro 28, 2006

Texto Complementar: O Globo ficou bom. Mas quem lê tanta notícia?

Opinião: reforma do site Globo Online resultou em uma home bonita, talvez com notícias e links demais. O que nos leva a pensar no que fazer quando a rotina diária de usuário já é bem pesada, com tantos e-mails, scraps, vídeos e fotologs disputando a atenção.

Semanas atrás acessei o site do jornal O Globo e tive uma boa surpresa. Depois de muitos anos com o mesmo layout, resolveram modificá-lo por completo. No primeiro dia que acessei achei tudo muito bacana. As cores, a leveza… até que, com o passar dos dias, comecei a perceber a leveza não era tão grande assim.

O primeiro obstáculo que encontrei foi “reacostumar” os olhos. Como diz Steve Krug, nós não lemos uma página, apenas passamos os olhos. E com os olhos acostumados com o site anterior, tudo era mais fácil. Sabia exatamente onde estava tudo. Mas com o site novo tudo mudou de lugar - o destaque estava do lado esquerdo ao invés do direito; as chamadas tinham mudado sua ordem de importância. Cadê a crítica de cinema do “bonequinho viu”? Acreditem, faz mais de duas semanas que procuro, procuro e não encontro. Será que mataram o bonequinho ou será que o site escondeu essa informação de mim?

Ao mesmo tempo que faltava uma informação, sobravam dezenas de outras penduradas na primeira página. Muita, mas muita informação.

Um mês depois minha opinião sobre o site do O Globo é completamente diferente. O novo site fez acender em mim uma discussão: o excesso de informações.

Será que realmente precisamos saber a previsão do tempo todos os dias? Que a protagonista da nova novela de Gilberto Braga será Alessandra Negrini? Saber que existe um programa como o “Fama” só para homens que é sucesso na China?

Vamos fazer uma brincadeira? Vejam esta pequena análise visual da primeira página do O Globo.



Em uma resolução de 1240 x 1024, a primeira tela a ser visualizada da primeira página do site do O Globo abrange todo esse espaço que está no print screen. Conte comigo, são 102 chamadas de informação, entre textos, ícones e imagens. Tudo isso para ser lido, só na primeira tela. Ao rolar para baixo e ver a segunda tela, ih… vão ser mais 100. Agora pergunto: é possível ler essas 102 chamadas todos os dias? Afinal, por se tratar de um site de notícias, pelo menos 60% dessas chamadas (ou mais) mudam diariamente. E então? Seria isso um excesso de informações? Uma tentativa de O Globo mostrar que “tem muitas notícias”, mais do que seus concorrentes?
Será mesmo que aquela chamadinha ali, da Alessandra Negrini, merece ter um nível de destaque maior que a notícia que vem abaixo dela (”Congresso faz último esforço concentrado antes das eleições”)?

Acredito que em pouco tempo toda essa estrutura deverá ser repensada. Do que adianta tecnologia e um bonito layout, se a estrutura da informação não considera o que poderia ser excessivo ou irrelevante para o usuário?

É muita informação, de dar dor de cabeça. Ao entrar no site me sinto num lugar barulhento, onde todos gritam, como nas antigas bolsas de valores antes da informatização, onde os operadores berravam como malucos. É dessa forma que me sinto no site do O Globo.

E isso não é “privilégio” do O Globo Online. Essa semana instalei o Google Deskbar. O software promete uma infinidade de informações em seu desktop. Olha que interessante: notícias em tempo real, previsão do tempo, aniversariantes do dia puxados de sua lista do Orkut, fotos que ele caça no seu computador e fica mostrando pra você… que bacana! Mas peraí… Eu preciso de tudo isso? Previsão do tempo? Por que, se não sou agricultor, não vou à praia amanhã nem viajo todos os dias?

Cada pessoa é de um jeito, claro, mas já estamos vendo o excesso de informações que os estudiosos diziam tempo atrás que iríamos ter um dia… Todo dia lançam uma nova preocupação em nossa vida: tenho que acessar o Orkut, responder scraps, atualizar fotolog, ler as notícias da última hora, toda hora (atualizadas de hora em hora), ler fóruns, conversar no MSN, falar no Skype. Agora até vídeo eu tenho que atualizar no You Tube. Tudo isso junto, feito ao mesmo tempo. Para quê?

Cuidado, podemos ficar todos loucos. Vamos tentar escapar disso! Para o alto e avante!

Webinsider, Bruno Ávila, 15 de setembro de 2006

Em tempo de eleição... Políticos usam pouco a internet nas eleições

Políticos usam relativamente pouco a internet. Por não ser mídia de massa e ter baixa penetração social, não seria ferramenta capaz de atingir o número de pessoas necessário para alterar o resultado das eleições. Talvez não saibam usá-la.

O processo eleitoral deste ano começou com uma mudança de regras que alterou sensivelmente a forma como os partidos políticos fazem suas campanhas. Trata-se da Lei 11300/06. Entre essas mudanças está a proibição a candidatos e partidos de distribuir camisetas, chaveiros, bonés, canetas, cestas básicas ou qualquer outro bem material que possam significar benefícios ao eleitor. Também foi proibida a participação de artistas e cantores em comícios dos candidatos.
Outro veto imposto pela legislação é a utilização de outdoors para a propaganda eleitoral. A empresa responsável, os partidos, coligações e candidatos que utilizarem esta mídia podem ser condenados à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de 5.000 a 15.000 Ufirs.

Com tantas restrições à outras mídias, era de se imaginar que a internet pudesse ser a grande arma das campanhas deste ano. Contudo, a poucos dias do pleito, esta expectativa parece não ter se confirmado. Pelo menos não com a intensidade que se esperava.

A web se caracteriza pela interatividade e capacidade de aproximar pessoas entre si e de aproximar pessoas à idéias, conceitos, produtos, empresas e marcas. Olhando friamente, é tudo o que os partidos precisam: aproximar pessoas de suas idéias e propostas. Mesmo assim a utilização desta mídia nas campanhas tem sido no mínimo superficial.

Como exemplo do potencial desta mídia, podemos citar o e-mail marketing, que tem se revelado uma das estratégias mais baratas e eficientes de divulgação e formação de relacionamentos. Um estudo feito pelo Winterberry Group nos Estados Unidos mostrou que campanhas de marketing por e-mail geram um retorno 17 vezes maior do que campanhas feitas por correio convencional e até 73 vezes maior do que campanhas de telemarketing (Fonte: revista Webdesign. Ano 3, n.33, setembro/2006, p.8). Mesmo assim, este dispositivo está sendo utilizado com muita timidez pelos partidos nestas eleições.

Esses são apenas alguns exemplos. Além desses, um grande número de outras vantagens e motivos para a utilização da internet nas campanhas eleitorais poderiam ser citados aqui. Contudo, na prática, o que estamos vendo é o foco das campanhas voltado quase que exclusivamente ao horário eleitoral gratuito no rádio e televisão e às ações presenciais, como reuniões, comícios, atos públicos e caminhadas junto a eleitores.

Políticos com foco nas classes C e D

É claro que para nós profissionais desta mídia isso é lamentável, mas temos que procurar enxergar os motivos para o fraco ritmo do crescimento da utilização da web em campanhas políticas. Da mesma forma que as vantagens são óbvias, os motivos para sua pouca exploração também são óbvios. Vamos analisar alguns números.

Segundo o censo do IBGE, o Brasil tem pouco mais de 180 milhões de habitantes. O TSE divulgou que para as eleições 2006 somos mais de 120 milhões de eleitores habilitados.

Quando comparamos este universo com o número de usuários atingidos pela mídia internet, as coisas começam a ficar mais claras. Segundo o Ibope/NetRatings, em junho/2006 a internet tinha no Brasil 13,4 milhões de usuários ativos. Isso representa apenas pouco mais de 10% de todo o universo eleitoral.

As pesquisas eleitorais têm mostrado que quem está decidindo as eleições deste ano são as classes C e D, enquanto que a audiência da internet é formada principalmente pelas classes A e B.

Tudo isso nos mostra que, mesmo com todas as vantagens oferecidas, a baixa penetração social do acesso à internet ainda não a credencia como uma ferramenta capaz de atingir o número de pessoas necessário, o suficiente para alterar o resultado das eleições.

Outro motivo: as grandes vantagens da web atualmente giram em torno da exploração dos recursos multimídia, com áudio, vídeo e animações. Como sabemos, estes recursos, para serem bem aceitos pelos usuários, dependem de uma conexão de banda larga. Contudo, uma estimativa da E-Consulting mostra que até o final de 2006 deverão existir no Brasil apenas cerca de 4,1 milhões de usuários conectados em banda larga. Número irrisório quando comparado ao universo de 120 milhões de eleitores.

Público formador de opinião

Estas desvantagens, bem ou mal, justificam a não exploração da internet nas campanhas eleitorais com a mesma intensidade que esperávamos depois das sanções impostas pela legislação a outras mídias. Apesar disso, ainda há pelo menos um argumento que daria à internet um papel estratégico fundamental nas campanhas eleitorais: ela é povoada por formadores de opinião.

Mesmo representando apenas pouco mais de 10% do universo eleitoral brasileiro, a web é uma mídia privilegiada, pois a maioria de seus usuários é formada por pessoas das classes A e B, com alto grau de instrução. Há na internet um grande número de pessoas capazes de gerar e liderar mobilizações sociais.

Ou seja, mais do que 13,4 milhões de usuários, a internet tem 13,4 milhões de multiplicadores de idéias e formadores de opinião, que podem retransmitir as mensagens recebidas via web a um grande número de pessoas a quem estão socialmente ligadas. Não dá para não levar isso em conta.

Webinsider, Sérgio Mari Jr, 17 de setembro de 2006

Texto Complementar: Todo mundo pode ser jornalista? O que você acha?

Cada vez mais a produção de conteúdo é impactada pela facilidade de publicação proporcionada pelos blogs. Sim, é possível manter um publicação relevante e obter credibilidade, de forma independente.

Um blog, até pouco tempo, podia ser definido como uma espécie de “diário” eletrônico. Mas esta ferramenta vem ganhando mais e mais recursos e, em alguns casos, pode mesmo ser chamado de veículo de comunicação.

O número de blogs tem dobrado a cada seis meses, segundo informações da Technorati, que monitora o conteúdo de mais de 52 milhões deles. Hoje existem cerca de 70 milhões de blogs e que quase 75 mil novos são criados todos os dias. Isso dá a média alucinante de um novo blog por segundo!! E quem lê tudo isso? Cerca de 1/3 dos usuários da internet, segundo a mesma Technorati.

No que tange à comunicação e à informação, desconfio que esta seja uma das mais importantes ferramentas criadas para a produção de conteúdo na web. Não apenas porque permite que qualquer pessoa possa criar e manter um veículo de comunicação, gratuitamente, e sem ter que entender nada de programação. O fundamental, na minha opinião, é que a participação dos leitores já está provocando mudanças na postura dos profissionais que, até bem pouco tempo detinham o monopólio da informação.

Em breve o jornalista não será mais o dono da informação, da fonte, do furo. E quem ganha é a notícia, que passa a ser produzida de forma mais coletiva, adquirindo novos pontos de vista e chegando a lugares e a situações que os meios de comunicação não conseguem chegar. Grandes desastres como o furacão Katrina e a Tsunami no Oceano Índico geraram enormes picos de postagem nos blogs. Informação preciosa, fornecida por gente comum.

Hoje basta estar na hora certa e no lugar certo, com um celular na mão, para se tornar fotógrafo ou cinegrafista. Em vez de ligar para a redação para avisar de um fato, o leitor “apura” a matéria e a envia pronta. E a credibilidade? E tudo o que aprendemos na faculdade e nos anos de experiência profissional? Quem responde é o jornalista Ricardo Noblat, que assina o primeiro blog de notícias do Brasil: “Credibilidade se conquista produzindo informação de qualidade. Isso o leitor comum pode fazer. Mas é claro que o jornalista, que estudou para isso, sai na frente”.

A interatividade ensinou muito a Ricardo Noblat e creio que seu aprendizado pode ser muito útil tanto para profissionais e como para estudantes. Com duas semanas no ar, ele recebeu uma informação de um amigo, profissional competente, com quem já tinha trabalhado, pessoa de confiança. Publicou. Era um trote do Cocada Boa, grupo que cria “notícias” com aparência de verdade como forma de humor. E quem acha que isso não tem graça nenhuma, relaxe, na internet tem espaço para todos. Os caras têm ótimas sacadas.

Noblat pensou em tirar a nota do ar, mas resolveu pedir desculpas ao público e foi massacrado. “Ninguém gosta de receber críticas, muitos colegas deixaram de colaborar no meu blog, por causa disso. Em um jornal, um erro tem muitos ‘pais’, o que faz com que ninguém, em última instância, se responsabilize por ele. No blog, tudo é de sua responsabilidade e, qualquer deslize gera uma avalanche de críticas em menos de 10 minutos.”

Passado o choque inicial, Noblat entendeu que muitas das críticas procediam e passou a ser ainda mais rigoroso na apuração dos fatos, não importando sua origem. Hoje, além das informações que recebe de fontes e colegas de profissão, ele conta com uma extensa rede de colaboradores, além de dois repórteres contratados. “Todo mundo está sujeito a errar. É nossa obrigação checar tudo”, completa.

O Globo investiu neste nicho e criou o Eu Repórter, no Globo On Line, que recebe material dos leitores. A equipe procura manter o texto original enviado, só fazendo alguma alteração se for fundamental para a compreensão da leitura. Como as matérias são publicadas em uma página exclusiva, fica muito claro que a informação foi produzida por um amador, embora a equipe responsável cheque tudo para garantir a credibilidade, maior valor de um veículo de comunicação.

Essa importante ferramenta de comunicação, de informação e de conhecimento permite dar voz a quem não podia falar. Permite reunir quem não tinha espaço. Permite articular interesses de quem andava sozinho. Basta ter o que dizer, a quem dizer e trabalhar com seriedade. Se este é o seu caso, crie o seu blog. Se não, as colaborações são sempre bem-vindas!

Webinsider, 18 de setembro de 2006, por Ana Redig

quarta-feira, setembro 27, 2006

Curiosidade: O que o vídeo com Daniela Cicarelli tem a nos dizer?

Quando se dá poder aos usuários, é difícil tirá-lo. Não adiantou os moderadores do YouTube tirarem os primeiros vídeos postados porque dezenas de outros foram adicionados em seguida.

Eu vi o vídeo da Cicarelli na praia com o namorado. Quem não viu? Começou com apenas uns beijinhos, destes inocentes. No início eu pensava que talvez o vídeo não fosse pior do que uma cena de novela, daquelas que vão ao ar antes das 11 da noite.

Mas a coisa foi esquentando, os amassos entre a Cicarelli e o seu namorado Tato foram ficando mais picantes até que o vídeo virou praticamente um filme erótico, cru, sem a glamourização dos filmes profissionais, mas com um aspecto voyeur que fez a internet brasileira se arrepiar.

Uma internet, uma comunidade

O primeiro fato que chama atenção neste caso é a existência da internet como unidade, como uma comunidade coesa de pessoas. Poderíamos dizer que a internet brasileira toda viu o vídeo da Cicarelli?

É interessante pensar que existe uma internet brasileira, uma comunidade que está unida pelos cordões umbilicais que são os blogs, as comunidades no orkut, os e-mails, os messengers, os chats, etc., e que um conteúdo muito interessante será visto por toda essa comunidade, ou pelo menos boa parte dela.

Não tenho métricas sobre o vídeo da Cicarelli, mas sei que quatro entre as cinco notícias mais lidas ontem no site da Folha de São Paulo eram sobre esse assunto.

Marketing de comunidade

Para entender o que é o marketing viral, em vez de olhar a coisa pelo ponto de vista de propagação da informação, talvez seja melhor entender o fenômeno social que leva a informação a ser propagada tão rapidamente. Vendo assim, chamaríamos isso de marketing de comunidade, em vez de marketing viral.

O marketing de comunidade transcende um pouco a idéia do viral. Além de ser uma estratégia de comunicação na qual a mensagem deve ser distribuída livremente pelos usuários, leva em consideração que a internet é uma comunidade, ou uma comunidade de comunidades. Então o campo de ação passa a ser mais amplo.

Entender as comunidades que existem na web e como elas reagem e interagem é muito mais importante para uma ação que pretende ser “viral” do que apenas reconhecer o fato de que a propagação da mensagem será exponencial (daí o nome viral, porque o vírus também se propaga assim).

Isso significa entender do que as pessoas realmente gostam e dar poder à comunidade, para que ela interaja entre si em torno da marca. O fator social, antropológico mesmo, em relação à forma como as pessoas se relacionam e se comportam na internet é fundamental para esta nova geração da comunicação.

Aquele que aprender a controlar o efeito Cicarelli, o modo como a comunidade interage entre si e em relação ao conteúdo e as marcas será o mestre desta nova era da comunicação.

Voltando à Cicarelli: sobre o conteúdo (e que conteúdo!)

O efeito Cicarelli também nos faz pensar sobre o conteúdo na web 2.0. Quando você dá poder aos usuários, é difícil tirá-lo. Não adiantou os supostos moderadores do YouTube tirarem os primeiros vídeos postados porque dezenas de outros foram postados e vistos centenas (se não milhares) de vezes antes que o moderador pudesse barrar.

Se os vídeos precisassem ser pré-aprovados, não haveria YouTube, porque seria impossível moderar tantos vídeos. Por outro lado, se o próprio usuário faz, modera e classifica o conteúdo, como acontece em tantos sites web 2.0, será impossível conter um tsunami como foi este vídeo da Cicarelli, por mais condenável, anti-ético e contra os termos de uso que seja.

Este é um risco que a nova internet irá correr, porque no meio de um monte de gente legal sempre tem um bobão que vai fazer algo que não era exatamente o propósito original do site.

Mas nós continuamos crendo na doutrina do Sr. Linus, que rege a comunidade de software livre: se muita gente está olhando, todos os erros serão corrigidos. Sempre haverá muito mais gente para barrar o conteúdo inapropriado do que pessoas postando este tipo de coisa.

Assim, entender, controlar, e suprir as necessidades das comunidades, de diversas formas e para diversos propósitos me parece ser a galinha dos ovos de ouro desta nova geração.

Webinsider, 21 de setembro de 2006, por Gilberto Alves Jr.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Texto Complementar: www.campanha.na.internet.com.br


WWW.CAMPANHA NA INTERNET.COM.BR

Jornal O Tempo, Segunda-feira, 11 de Setembro de 2006, Ricardo Corrêa

A campanha eleitoral de 2006 está pegando fogo, com acusações entre candidatos e propaganda das coligações por todo lado... na Internet. Enquanto o clima nas ruas ainda não lembra nem de longe as eleições de outras épocas e o horário eleitoral na televisão e no rádio anda meio morno, é na grande rede que o confronto corre mais solto.

Para muitos candidatos, o lema agora é a troca de bytes por votos – seja em redes de relacionamento, blogs, sites de vídeo ou nos sites oficiais dos candidatos à Presidência da República e ao governo de Minas Gerais.

Nas páginas próprias, porém, o uso é comedido, sem grandes acusações, para evitar sanções da Justiça Eleitoral. O grande ensaio para a onda de propaganda eleitoral na Internet aconteceu durante o referendo do desarmamento, no ano passado.

O Orkut serviu como ferramenta de difusão das campanhas pelo sim e pelo não, aumentando a mobilização em torno da consulta popular.

Agora a Internet entra de vez na campanha pelos votos de 32 milhões de brasileiros conectados, principalmente após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ditar regras mais duras para a propaganda na rua.

Reunindo milhões de brasileiros em suas comunidades, o Orkut é utilizado como arma importante tanto para candidatos como para seus simpatizantes. Os tópicos servem para discutir, muitas vezes asperamente, as atitudes e a moral de um ou de outro candidato. Comunidades contra e a favor de concorrentes é o que não faltam.

Se nas pesquisas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com folga, no Orkut é seu concorrente Geraldo Alckmin (PSDB) quem está na frente. O tucano possui a maior comunidade entre os presidenciáveis, com mais de 94 mil membros. Lula conseguiu reunir cerca de 50 mil perfis, praticamente a mesma quantidade da candidata do PSOL, Heloísa Helena.

Os candidatos com resultados menos expressivos nas pesquisas repetem o desempenho. Cristovam Buarque (PDT) conseguiu reunir menos de 2.000 membros em sua maior comunidade no Orkut. José Maria Eymael (PSDC), Luciano Bivar (PSL) e Rui Costa Pimenta (PCO) giravam, na semana passada, em torno dos 200.

As comunidades de Geraldo Alckmin e Heloísa Helena aproveitam para oferecer um serviço interessante, de adesivação da foto que é exibida no perfil do usuário do Orkut. O internauta envia sua foto através de um formulário e a recebe de volta com a logomarca da campanha do candidato.

A disputa pelo governo de Minas Gerais também ganhou as páginas do Orkut. E como nas pesquisas, Aécio Neves (PSDB) lidera de longe. A maior comunidade de Aécio Neves no serviço reúne mais de 3.400 membros. A de Nilmário Miranda (PT) não passa de 500. Vanessa Portugal (PSTU) também está representada, com cerca de 250 membros em sua comunidade.

Se os que gostam do atual governador no Orkut são muitos, os que odeiam também existem. A comunidade “Eu Odeio Aécio Neves” possui mais de 350 membros.

O candidato tucano tem também cerca de 1.500 admiradores mais empolgados, que em vez de usar a comunidade “Aécio Neves Governador”, preferiram “Aécio Neves Presidente 2010”, já imaginando o governador a caminho do Palácio do Planalto.

Para cientista político, falta interatividade

O cientista político Rodrigo Mendes gostou do que viu nos sites oficiais dos candidatos, mas fez uma ressalva: falta interatividade.

“Nenhuma página permite que o eleitor possa dialogar. E isso é o mais interessante da Internet. Quando tem, você tem que fazer um cadastro, não tem uma conversa mesmo, um chat”, explicou o cientista político, que elogiou o site do governador Aécio Neves.

“Um dos melhores que eu vi. Melhor inclusive que o do Geraldo Alckmin (candidato tucano à Presidência), usando quase todos os recursos possíveis”, afirma o cientista, que acha que a utilização da Internet ainda não ganhou tanta força no Brasil.

“Não é como a eleição norteamericana, em que já existem campanhas feitas quase só pela Internet mesmo, por e-mail, Orkut, comunidades, com especialistas trabalhando nisso”, diz Rodrigo Mendes.

No entanto, ele reconhece que as coisas já começam a mudar também aqui. “Já tem candidato comprando banco de e-mails e mandando informações para os eleitores”, conta.

Mendes ressalta que a Internet não é uma mídia de massa, e que a maior parte da população não acompanha a campanha que é feita neste meio.

“Apenas um conjunto específico da população utiliza a Internet. Mesmo que muita gente tenha acesso sem ter computador em casa, não vai se dar ao trabalho de entrar no site do candidato, por exemplo”, opina.

Apesar das ressalvas, o cientista político avalia que a rede tem papel importante para candidatos que querem falar com um público mais sofisticado.

“É uma ferramenta muito importante, mas deve ser observado que tem que saber usar, senão o efeito é contrário. Não adianta criar um espaço para que o eleitor dê sua sugestão, se não houver alguém que responda”, alerta o cientista político.

Segundo o Ibope, que criou recentemente um produto para auxiliar os candidatos e partidos no uso da Internet, são cerca de 32 milhões os brasileiros maiores de 16 anos conectados à web. Significa dizer que 25% do total de eleitores já possui acesso à rede.

Na apresentação de seu produto, o Ibope pondera, como Rodrigo Mendes, que o poder da Internet como ferramenta para conquista de votos é pequeno, pela abrangência limitada.

Mas ressalva que “por outro lado, nosso país apresenta elevado uso de sites de comunidades, blogs e videoblogs, o que mostra um potencial para que simpatizantes divulguem para seus amigos e conhecidos informações sobre as candidaturas, podendo até gerar pautas para a grande mídia”. É nisso que apostam os candidatos.

Sites oficiais têm até aplicações para muro

Os sites oficiais dos candidatos estão mais sofisticados nestas eleições. Rigorosamente fiscalizados pela Justiça Eleitoral, as páginas dos principais candidatos à Presidência e ao governo do Estado exibem materiais oficiais de campanha e programas eleitorais.

Se no YouTube e no Orkut as críticas dos eleitores são ásperas, nos sites oficiais as coisas estão bem mais calmas.

De acordo com o cientista político Rodrigo Mendes, a Internet, que na eleição anterior serviu para acusações e ataques, agora ganhou outra função. “Nesta eleição está diferente. Eu acho que isso reflete o momento. Os sites estão sendo mais usados para passar informações para a imprensa”, diz.

O site do presidente Lula é um dos que apresenta mais recursos para o internauta-militante. Adesivos, cartazes e até a foto oficial dele estão lá.

Os jingles, marca das campanhas petistas, também podem ser baixados na versão original, em samba ou em axé. Há também a Rádio 13, com informações sobre a campanha do petista.

No site da campanha de Geraldo Alckmin, os programas de televisão, jingles e materiais de campanha também estão presentes. A arte de banners, folhetos e até aplicações em muro podem ser obtidas.

Um recurso interessante é a “foto com Alckmin”, para que os eleitores que tenham sido clicados com o presidente em alguma atividade de campanha possam ver e imprimir as fotos.
A terceira colocada nas pesquisas, Heloísa Helena, também fornece a arte de materiais de campanha para seus apoiadores.

O blog do Cristovam, dentro do site do presidenciável Cristovam Buarque, é uma das marcas da campanha do pedetista. Além do blog, o site oficial do pedetista traz vídeos, áudios, fotos e o jingle da campanha, além do programa exibido no horário eleitoral gratuito.

Na página o militante pode encontrar os chamados “kits de mobilização”, para implementar uma campanha por e-mail, Orkut e MSN Messenger.

Vídeos proibidos na TV passam livremente no YouTube

A grande novidade on-line nas eleições de 2006 atende pelo nome de YouTube. O site reúne uma coletânea de vídeos publicados por todo tipo de internauta, que variam de muita a nenhuma qualidade. De gente comum a assessores de candidatos, dispostos a construir ou desconstruir uma candidatura.

Uma das surpresas do eleitor que acessa o YouTube é a presença de vídeos proibidos pela Justiça Eleitoral.

É o caso de um vídeo da campanha do presidente Lula. Com veiculação na TV embargada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o vídeo em que ele compara seu governo ao de Fernando Henrique Cardoso pode ser visto sem problemas no site.

Um programa eleitoral da candidata ao governo de Minas, Vanessa Portugal (PSTU), com trecho proibido pela Justiça Eleitoral mineira, também está no portal de vídeos.

Muitos assessores aproveitam para colocar, no YouTube, entrevistas e programas eleitorais dos candidatos. Aécio Neves (PSDB), por exemplo, tem uma série de discursos e entrevistas publicadas, incluindo uma exclusividade: a íntegra da participação do candidato na sabatina promovida pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

Se os bons vídeos dos candidatos aparecem, suas mancadas também não ficam impunes. Imagens antigas, com declarações que agora escapam ao que os candidatos pregam, são as preferidas.

José Serra (PSDB), que tenta o governo de São Paulo, não conseguiu esconder, na Internet, sua declaração de que ficaria na Prefeitura de São Paulo até o fim do mandato. Um vídeo em que responde à pergunta do jornalista Boris Casoy entrega o tucano.

Lula também sofre no YouTube. O site veicula um vídeo em que ele trata pejorativamente a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, dizendo que a cidade “é pólo exportador de veados”. Em outro vídeo, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) o chama de “ladrão”.

O YouTube ainda tornou-se uma janela para que candidatos estranhos e diferentes ganhem visibilidade. Muitas vezes sem objetivos eleitorais, com o intuito simplesmente de divulgar uma situação engraçada, os internautas publicam vídeos de campanhas eleitorais atuais ou antigas. É só pesquisar no site.

Matéria retirada de: http://www.otempo.com.br/politica/lerMateria/?idMateria=60937

quinta-feira, setembro 14, 2006

Texto Complementar: Vale a pena parar alguns minutos e ler... Capa da Revista Veja dessa semana!

A nova era da televisão

O YouTube, o site de vídeos mais popularda internet, está transformando a relaçãodo espectador com o mundo da imagem.É uma revolução que marca o fim da TVcomo se conhecia até hoje

Revista Veja, 11 de setembro de 2006, Marcelo Marthe


Às vezes as pessoas não percebem imediatamente que uma revolução está em andamento. É o que acontece agora em torno do site YouTube, que se tornou um dos mais populares. De 2,5 milhões de visitantes mensais há cerca de um ano, sua audiência pulou para quase 50 milhões em julho passado. O que ele oferece? Clipes de no máximo doze minutos, que os próprios usuários acrescentam ao acervo, a respeito de quaisquer assuntos. Lá estão filmagens históricas, trechos de seriados ou novelas, vídeos independentes, cenas caseiras de um bebê sorrindo ou de bichinhos de estimação. Qual a graça? A primeira é a de que 100 milhões desses clipes são baixados diariamente por usuários de todas as partes do mundo. A segunda é a de que o YouTube significa que embrionariamente o YouTube e seus concorrentes estão reinventado a maneira como as pessoas vêem televisão.

Não é pouca coisa. A internet tem uma capacidade quase infinita de armazenar dados, e seus servidores são enriquecidos segundo a segundo de maneira voluntária por milhões de fornecedores de conteúdo – os próprios usuários. Nenhuma rede de televisão pode concorrer em ineditismo e variedade com o YouTube. O mundo inteiro assistiu, por exemplo, às imagens de Fidel Castro num leito de hospital recebendo a visita do colega venezuelano Hugo Chávez. As televisões mostraram o encontro em um pequeno flash de alguns segundos. Pois no YouTube tem-se imagens, com sons, de quase dez minutos da visita. Quem se interessa por tanta intimidade com dois dos mais detestáveis tiranos da atualidade? Pouca gente. Mas quem quiser ver está lá. Ao alcance de um clique de um computador ligado à internet por banda larga.

Quem se interessaria por ver clipes do show-cult inédito de Bob Dylan The Rolling Thunder Review nos anos 70? O filme é ruim, mas as músicas são ótimas. Estão quase todas lá. Não apenas Fidel e Dylan. Pense ao acaso em qualquer político, compositor, cantor, ator, poeta, escritor, uma celebridade qualquer e a chance de encontrar um clipe inédito do sujeito no YouTube é maior do que garimpar a mesma raridade em qualquer outra fonte do universo.

Imagine que o YouTube é apenas o começo, um negócio ainda deficitário que consome mensalmente cerca de 500.000 dólares dos 11,5 milhões de dólares que recebeu de um VC, a sigla de "venture capitalist", ou investidor aventureiro pronto a apostar em qualquer coisa que faça marola no infinito mar da internet. Imagine que a banda larga vai chegar a mais e mais casas pelo mundo. Imagine que mais pessoas terão suas próprias câmeras de vídeo e seus próprios aparelhos de capturar e digitalizar imagens – sejam as de televisão, as dos velhos filmes super-8 guardados no porão, sejam as capturadas em arquivos de museus nos cantos mais recônditos do mundo. Imagine tudo isso, e a realidade do que representa a oferta de vídeos pela internet vai superar tudo.

Já faz algum tempo que a experiência de ver TV se modifica. Assistir a uma novela das 8 ou a um programa de domingo é coisa que as pessoas ainda querem, e provavelmente continuarão querendo. É algo que se faz com a família, e que se pode comentar com os amigos no dia seguinte. Mas, ao lado dessa experiência coletiva e compartilhada, o público também deseja ter maior autonomia e possibilidade de escolha daquilo a que vai assistir. A popularização dos canais pagos, no início dos anos 80, foi um primeiro passo para satisfazer esse desejo. O processo continua se aprofundando, com a chegada de tecnologias que dão ao espectador a oportunidade de ver TV quando e onde ele quiser. Hoje, 14 milhões de americanos dispõem de sistemas digitais como o TiVo, que permite gravar e recuperar programas a qualquer hora. A oferta de programação para aparelhos portáteis também já é uma realidade. Grandes empresas investem pesado para disponibilizar conteúdo de vídeo em computadores, iPods ou celulares. Steve Jobs, o visionário executivo da Apple, foi pioneiro ao fazer uma parceria com a Disney e colocar à venda no iTunes, a loja virtual de sua empresa, filmes, videoclipes e episódios de seriados. Outras redes de televisão e estúdios de cinema se apressam em explorar essa seara.

Mas sites como o YouTube representam um passo além na direção da "TV personalizada". Eles são comunidades para quem gosta de ver, comentar e fazer vídeos. Quando alguém acessa o site, encontra um catálogo de milhões de clipes, que pode explorar por meio de um sistema de busca com alto grau de precisão. Se ele procura por vídeos sobre o presidente Lula, por exemplo, achará registros de suas aparições recentes em telejornais, ou na propaganda eleitoral na TV. Pode também recuperar imagens do passado, como as de Lula nos debates das eleições de 1989. Ou ainda conferir uma enxurrada de críticas e sátiras ao candidato. O usuário pode opinar sobre tudo isso por escrito – e também acrescentar um vídeo próprio ao conjunto. "Ao transportar a lógica de um site de relacionamentos à experiência de assistir a vídeos, o YouTube rompeu de vez com os paradigmas da TV tradicional", diz o executivo Marcello Póvoa, especialista no mercado de internet. "O espectador agora interage com aquilo a que assiste e se torna senhor da própria transmissão da TV."

A história de sucesso do YouTube soa como várias outras que se conhecem no mundo da internet: numa garagem no Vale do Silício, região que concentra a indústria de alta tecnologia nos Estados Unidos, dois engenheiros de 20 e poucos anos, Chad Hurley e Steve Chen, desenvolveram uma nova ferramenta com o intuito de facilitar a troca de vídeos de uma festa de sua turma sem entupir a caixa de e-mails ou travar o computador dos amigos. O boca-a-boca fez com que o número de usuários explodisse. Hoje, vêem-se mais de 100 milhões de vídeos por dia no site. E ele cresce como um organismo vivo: todos os dias, 35.000 novas "atrações" são acrescentadas a seu acervo pelos usuários.

Embora o YouTube seja responsável por boa parte do tráfego de vídeos na internet atualmente, todo um mercado fervilha a seu redor. De fato, sua explosão coincide com (e ajudou a desencadear) uma verdadeira corrida ao vídeo na rede. De olho em previsões como a de que a veiculação de imagens na internet deve aumentar dez vezes no mundo até 2010, potências do ramo como a Microsoft de Bill Gates, o Google e o Yahoo! também vêm investindo pesado em serviços similares – cada qual com seus atrativos e suas deficiências. No ano passado, o magnata Rupert Murdoch desembolsou 580 milhões de dólares para comprar o site MySpace, a maior comunidade virtual do planeta. Pretende valer-se dele como canal de distribuição do conteúdo produzido por seu conglomerado, que inclui companhias como a Fox. Recentemente, a Sony adquiriu o Grouper, um concorrente menor do YouTube, por 65 milhões de dólares. A escala dos investimentos leva especialistas a apontar que, se fosse vendido hoje, o YouTube não custaria menos de 1 bilhão de dólares.

A onda é engrossada ainda pelas maiores interessadas no negócio: as redes de televisão. No Brasil, emissoras como a Globo e a Record já transmitem vídeos de suas atrações em seus respectivos sites. E a MTV acaba de lançar no país o Overdrive, uma versão do canal para a internet. Sucesso nos Estados Unidos, onde registrou mais de 400 milhões de acessos em pouco mais de um ano de funcionamento, o site é uma amostra de como o casamento com a internet está transmutando a TV. O usuário pode acessar os clipes do acervo da emissora e freqüentar canais exclusivos para seu gosto musical, seja ele metaleiro, seja ele fã de pagode. Pode ainda criar os próprios vídeos, recuperar cenas de programas e ver extras que vão desde os bastidores de um programa até ensaios de bandas de rock. Ou seja: pode tudo e muito mais do que encontra na MTV convencional

O sucesso em vídeo na internet já se tornou um atalho para a presença em grandes redes de televisão. No ano passado, o produtor americano Bill Lawrence apresentou o piloto de uma série cômica sobre os bastidores da TV à rede Warner. Nobody's Watching (Ninguém Está Assistindo) foi considerada um mau negócio e rejeitada. Em junho passado, no entanto, trechos do piloto foram postados no YouTube. Em um mês, o programa foi acessado por mais de 600.000 pessoas, o que levou a NBC, concorrente da Warner, a comprar seus direitos. Seis episódios para veiculação na internet estão em produção, e Lawrence trabalha numa versão da série para a TV. Há ainda outro exemplo emblemático. Em 2001, três amigos que tentavam em vão ser atores e diretores lançaram um site chamado The Lonely Island para divulgar impagáveis vídeos musicais e uma paródia de seriados juvenis. O grupo ganhou tal celebridade na internet que acabou chamando a atenção do Saturday Night Live, o mais antigo humorístico americano. Eles foram contratados, e logo passaram a produzir no programa o mesmo tipo de material. "A internet é o maior amplificador do boca-a-boca que já se viu", diz o jornalista americano Chris Anderson, autor do livro A Cauda Longa (Editora Campus), uma visão inovadora sobre por que a internet alterou para sempre a lógica do mundo do entretenimento.

Anderson chama a atenção para um fato-chave: o espaço quase inesgotável de que a internet dispõe para armazenar informações. "Isso é de extrema importância quando se pensa em vídeo, pois a televisão tem sido, até hoje, o meio de comunicação que mais desperdiça seu conteúdo, já que não consegue reexibir sua produção acumulada", disse o autor a VEJA. (Essa riqueza já começa a ser explorada no Brasil por garimpadores como o auxiliar contábil mineiro Adriano Silva, que desde os anos 80 vem colecionando imagens dos programas dos quais é fã, de folhetins da Globo ao Show de Calouros de Silvio Santos, e hoje as compartilha no YouTube.) Anderson vai além ao extrair as conseqüências lógicas desse espaço ilimitado de armazenamento: a internet favorece o surgimento de nichos. Coisas que parecem ter pouca chance de atrair atenção, e portanto nunca encontrariam espaço em meios de comunicação tradicionais, ficam em exibição na internet e eventualmente conquistam seu público. A "cauda longa" de que fala o livro é a curva de audiência de um site como o YouTube. Seu pico ainda é representado pelos grandes sucessos. Atrás deles vem uma infinidade de vídeos que hoje podem interessar a uma única pessoa, mas amanhã... bem, amanhã nunca se sabe.

A internet tem capacidade de amplificar a um nível surpreendente fatos que de outra forma teriam tudo para passar despercebidos. Qualquer gafe cometida no ar é disseminada graças a ela em questão de horas (ou minutos). Quando o apresentador esportivo Fernando Vanucci surgiu no vídeo meio grogue, durante a Copa do Mundo, o vexame foi visto na rede por mais de 1 milhão de pessoas, audiência seis vezes superior à de seu programa na Rede TV!. A gafe do cantor sertanejo Daniel, que elogiou por engano o Teleton, campanha beneficente do SBT, num show do Criança Esperança, da concorrente Globo, também passaria batida não fosse sua divulgação no YouTube – para azar de Daniel, as imagens entraram até no ranking semanal das mais vistas no mundo. Esse fato aponta para aquilo que outro teórico – Richard Lanham, professor de inglês da Universidade da Califórnia e presidente de uma empresa de consultoria – chama de "a economia da atenção". No livro que leva esse título, Lanham argumenta que, ao contrário do que já se propagou, a informação não é a principal moeda da economia virtual. Na internet, a informação é abundante, virtualmente ilimitada – e, portanto, muito barata. Outro elemento passa a valer ouro: a capacidade de despertar a atenção das pessoas.


O AGITADOR DA REDE Antônio Tabet, o Kibe LocoO publicitário carioca Antonio Tabet pertence a uma nova categoria de comunicador: o blogueiro. Há quatro anos, ele criou o Kibe Loco, blog de humor com mais de 50 milhões de acessos. A especialidade de Tabet – também roteirista do programa de Luciano Huck na Globo – é garimpar cenas engraçadas da TV, enriquecendo-as com comentários e montagens. Fez um remix da declaração de Lula no Jornal Nacional de que "a única coisa que cai no país é o salário". Veiculou também as imagens do apresentador Fernando Vanucci meio grogue no vídeo. "O que me fascina é poder expor o que desejo sem passar por nenhum filtro editorial", diz.



Tome-se o caso de um dos maiores fenômenos brasileiros no YouTube, o curta-metragem Tapa na Pantera. O filme de pouco mais de três minutos, no qual a atriz Maria Alice Vergueiro interpreta uma patética velhinha viciada em maconha, foi uma produção feita de improviso e sem nenhuma pretensão por um trio de jovens cineastas paulistanos. Veiculado no site à revelia de seus criadores, o curta virou um hit com mais de 1 milhão de acessos. Nessa nova ordem do vídeo, ganharam expressão figuras como o publicitário carioca Antonio Tabet. À frente do blog Kibe Loco – visitado mais de 50 milhões de vezes desde que entrou no ar, há quatro anos –, ele é um dos grandes agitadores da internet brasileira e ajudou a produzir alguns dos principais fenômenos nacionais dos chamados "vídeos virais" – clipes que viram mania ao ser propagados por correntes de e-mail. A página de Tabet no YouTube já contabiliza mais de 6 milhões de acessos e chegou a ocupar o primeiro lugar no ranking mundial de canais do site na semana passada.

Ainda há um longo caminho para sites como o YouTube rivalizarem com a TV tradicional, é claro. Nos Estados Unidos, onde essas mudanças se encontram em estágio mais avançado, o cidadão médio assiste a quase cinco horas de TV por dia, de acordo com a Nielsen, empresa que monitora a audiência no país. Na outra ponta, o visitante típico do YouTube não gasta mais que dezesseis minutos diários no site. Mas há sinais claros de que essa realidade está mudando. A tendência óbvia é que a internet também tire um naco cada vez maior disso. Como sempre, os jovens estão na vanguarda das mudanças – nos Estados Unidos, a faixa etária dos 18 aos 26 anos já dedica mais tempo à internet do que à TV e é a maior consumidora de vídeos na rede. No Brasil, de acordo com a pesquisa Target Group Index, do Ibope, o pessoal na faixa dos 12 aos 24 anos gasta mais tempo navegando na internet que a média do universo analisado – o público AB das principais regiões metropolitanas do Brasil. Entre 1999 e o ano passado, o tempo devotado por eles à internet passou de três para dezesseis minutos diários. Seguindo a tendência da segmentação, a TV paga cresceu em popularidade junto aos jovens, enquanto a televisão aberta perdeu espaço em sua rotina.

Apesar de evidenciar toda a sua força com os jovens, a explosão do vídeo na internet é um fenômeno de efeitos globais. A semana do último 4 de julho, data em que os americanos comemoram o Dia da Independência, foi a de menor audiência em toda a história da TV no país. É verdade que tradicionalmente se registram recordes negativos no feriado – mas o fato é que a cada ano os números pioram. Nos Estados Unidos dos anos 50, um hit da televisão aberta como I Love Lucy monopolizava em média 68% dos espectadores no horário nobre. Já o maior sucesso das redes americanas no ano passado, American Idol, não atraiu mais que 27% deles. Embora seja impossível estabelecer uma relação direta, os especialistas não têm dúvidas de que a internet está tirando público da TV. Os homens entre 18 e 34 anos – um dos segmentos mais desejados pelo mercado publicitário – hoje gastam menos tempo com ela. Não por acaso, empresas como o McDonald's vêm deslocando seus investimentos em propaganda das redes de TV para a internet. Já foi dito que a Coca-Cola e a Pepsi não disputam apenas entre si – tudo o que o consumidor encontra ao abrir seu refrigerador é competição potencial para um refrigerante. Pode-se aplicar a mesma lógica ao mundo da imagem. Tudo o que prende a atenção numa tela – um monitor de computador, de videogame ou de televisão sendo usado para algum outro fim – é competição para as grandes redes.

O surgimento de sites como o YouTube só foi possível graças aos avanços recentes nas tecnologias do vídeo. Com a chegada ao mercado de câmeras digitais mais potentes e baratas, além dos celulares dotados de câmeras, nunca foi tão simples dar uma de cineasta amador. Mais que qualquer coisa, contudo, o que contribuiu para a popularização do vídeo na internet foi a evolução das tecnologias de transmissão e compressão de dados – e o que se vê hoje é só o começo. Mas ainda há gargalos dramáticos a vencer. A pergunta que os analistas se fazem é como o YouTube passará de uma comunidade cultuada a um negócio lucrativo. Os custos de manutenção do site, como já dito, são estratosféricos. De acordo com um concorrente ouvido pela revista inglesa The Economist, os gastos do site para manter uma conexão de banda larga que dê conta de sua demanda e servidores com capacidade para armazenar seu acervo ficam na casa dos 500.000 dólares mensais. Seus fundadores ainda buscam um jeito de ganhar dinheiro com ele. Há duas semanas, foi veiculada sua primeira campanha oficial de propaganda: uma página com conteúdo pago pela gravadora da patricinha e dublê de cantora Paris Hilton para divulgar o novo disco da moça. A questão que se impõe é como faturar sem afugentar um usuário que toma parte sem pudor nas correntes de "marketing viral", mas é avesso ao assédio da publicidade convencional.

Outra dúvida que paira sobre o YouTube diz respeito aos direitos autorais. O site tem como conduta retirar do ar os vídeos que geram reclamações de empresas e artistas, mas parece uma missão impossível filtrar tudo o que é postado nele. Os mais céticos apostam que ele poderá tornar-se para o mercado de vídeo na internet aquilo que o Napster representou para a troca de música na rede: uma iniciativa pioneira que se afundou numa enxurrada de processos. Pode até ser. Mas, assim como o Napster mudou a indústria da música, a revolução do YouTube já estará consumada.

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Uma nova forma de ver TV
Sempre cabe mais um
A mentira com efeitos especiais

terça-feira, setembro 12, 2006

Nova atividade: O futuro do Jornalismo e do Jornalista


Na nossa última aula, assistimos um programa de TV produzido pelos alunos de comunicação da UFMG, Mídia em Pauta, com a particpação da professora Valéria Said e do presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Aloísio Soares Lopes. Entre outros assuntos, discutiu-se o futuro do jornalismo e da profissão de jornalista. Após pequeno debate em sala de aula, gostaria que os alunos presentes fizessem um texto individual e opinativo com o seguinte tema: "O futuro do jornalismo e dos jornalistas perante as novas tecnologias". Bom trabalho!

sábado, setembro 02, 2006

Curiosidade: Os Cliques campeões no mundo

A Revista TIME elege a cada ano os 50 melhores sites em sete categorias - entretenimento, compras, notícias, relacionamentos, futilidades, viagens e busca na internet. Abaixo, alguns vencedores desta edição:

You Tube - A sensação do ano. Profissionais e amadores colocam vídeos no ar. www.youtube.com

My Space - Usuários selecionam fotos, perfis de bandas e comentários sobre o que gostam. www.myspace.com

Meebo - Concentra sistemas de comunicação, como MSN, ICQ e Google Talk. www.meebo.com

Pandora - Cria um programa de rádio a partir de músicas escolhidas pelo internauta. www.pandora.com

Digg - Notícias são colocadas no ar e avaliadas pela "comunidade Digg". www.digg.com

Pixsy - Site de busca de imagens. A mais procurada é a da atriz Angelina Jolie. www.pixsy.com

Trabalho: Entrevista com o Jornalista Ricardo Noblat

Caros alunos,
Após a exibição em sala de aula da entrevista com o jornalista Ricardo Noblat, fazer um texto jornalismo (matéria) como se vocês tivessem participado do programa. A matéria deve ser bem completa, com várias informações e com título. Fazer o texto como se vocês tivessem fazendo uma matéria para jornal impresso ou revista. Matéria individual.
Alguns dados da entrevista, caso precisem: Apresentador: Claudiney Ferreira, Participação: Guilherme Kujausky. Realizado pelo Itaú Cultural e pela TV Cultura de São Paulo. Programa: Jogo de Idéias. Lançamento do livro de Ricardo Noblat: "O que é ser jornalista?"

Jornalismo Colaborativo - Você faz a notícia


Como funcionam os sites Digg.com e OhMyNews – onde o cidadão comum é o jornalista – e qual é o real poder deles

Renata Leal, Revista Época, 14 de agosto de 2006

Foto: Operário. Kevin Rose posa para fotos com uma pá, alusão ao nome do site. Dig, em inglês, é "cavar". Aos 29 anos, ele já conseguiu US$ 60 milhões

A vida de uma redação é agitada. Dezenas de profissionais apuram, escrevem e editam textos sobre o que julgam mais importante para o leitor. Repórteres vão à rua, fazem entrevistas e escrevem reportagens. Elas depois passam pelo crivo dos editores antes da publicação. Assim funciona o jornalismo clássico. Ou funcionava. Pois a internet começou a transformar essa realidade.

Entre no site Digg.com e veja como são as coisas ali. Qualquer internauta pode atuar como editor e estabelecer o que é mais ou menos relevante a partir de textos prontos. Do nome - dig, em inglês, quer dizer cavar - vem a missão do site: selecionar (ou escavar) as notícias que recebem pouco espaço na grande mídia. Em vez de mandar links aos amigos, os diggers enviam ao site, com comentários.
A página de entrada é formada pelos títulos mais populares entre os visitantes. Se eles não gostam de um link, podem "enterrá-lo" e afastá-lo da página principal. Em cada notícia há também um espaço para o leitor comentar e criar fóruns de discussão. Mais de 1 milhão de pessoas passam pelo Digg.com diariamente, seja para ler, enviar notícias ou simplesmente votar. Com isso, ter um link no Digg se tornou um bom negócio também para os sites da mídia tradicional, pois a audiência aumenta significativamente.

O Digg.com, avaliado em US$ 200
milhões, já é o 23o site mais acessado nos Estados Unidos


Lançado em dezembro de 2004, o Digg.com afirma ter quase 445 mil usuários cadastrados. Esse número, de acordo com o próprio site, dobra a cada três meses. Nos Estados Unidos, é o 23º site mais acessado no país, segundo o Alexa.com, uma referência de tráfego na internet. É bem mais que páginas tradicionais dedicadas a notícias, como a Fox News ou a versão on-line do jornal Washington Post. O Digg.com é feito não pelo trabalho de jornalistas, mas pelos milhares de voluntários que publicam links com observações pessoais sobre os textos veiculados pela mídia tradicional ou em blogs. Seu idealizador, Kevin Rose, de 29 anos, comanda uma empresa avaliada em US$ 200 milhões. Desse total, 30%, ou US$ 60 milhões, são do próprio Rose. De acordo com os especialistas, o Digg já se destaca no meio on-line e promete sucesso semelhante ao do site de vídeos YouTube ou ao das comunidades virtuais do My Space.

O público do Digg é basicamente de homens (94%), na faixa entre 20 e 30 anos, com renda anual superior a US$ 75 mil. São um grande alvo para a propaganda. Mas o rendimento anual em publicidade do site ainda é pequeno: pouco mais de US$ 3 milhões. Para Rose, porém, é um tremendo sucesso. Ele investiu tudo o que tinha - até as economias reservadas para parte do pagamento de um apartamento - no que considerava uma grande idéia.

A origem dessa idéia foi o site Slashdot.org, fundado pelo programador americano Rob Malda, em 1997, quando ele tinha 21 anos. Foi o primeiro site construído com matérias enviadas pelos internautas. Os editores do Slashdot recebem diariamente centenas de sugestões de artigos.
Com isso, sites pequenos de notícia ganharam, da noite para o dia, audiência global. A massa de público pode ser tão grande que alguns computadores que os hospedam não suportam o número de acessos e saem do ar, fenômeno que foi batizado de "efeito slashdot". O Slashdot foi vendido em 1999 a uma empresa que, no ano seguinte, foi avaliada em US$ 1 bilhão. Hoje, o site pertence à OpenSource Technology Group e é a principal referência mundial para notícias ligadas ao mundo digital.
Cada colaborador do OhMyNews coreano pode ganhar atéUS$ 50 por artigo publicado
A idéia do Digg.com foi estender o modelo do Slashdot a todo tipo de notícia. Ela já havia sido tentada outras vezes. Agora, porém, o ambiente da internet estava mais propício. No universo conhecido pelo termo web 2.0, os internautas ajudam a construir o conhecimento, em vez de ser simples consumidores.

Um exemplo de onde esse modelo é seguido à risca é o OhMyNews, um jornal sul-coreano veiculado na internet em coreano e inglês. O lema do OhMyNews é: "Cada cidadão é um repórter". Colaboradores do mundo todo enviam reportagens sobre assuntos locais. Elas ganham a homepage do site de acordo com o interesse do público pelo tema - mas sem votação automática dos leitores. Cada colaborador do OhMyNews recebe até US$ 50 por reportagem aceita para publicação. O veículo afirma ter 43 mil "cidadãos-repórteres", 1.200 deles estrangeiros de cerca de cem países, que escrevem em inglês. Além de textos, o site veicula fotos, áudio e vídeos.

A brasileira Ana Maria Brambilla, de Toledo, no Paraná, se diz jornalista e cidadã-repórter. Ela escreve para o OhMyNews uma média de três reportagens mensais. "Acredito numa reformulação da profissão, com o jornalista nas funções de editor e mediador", afirma Ana. Ela desenvolveu sua tese de mestrado sobre o site de notícias e é professora universitária. O OhMyNews também tem uma edição impressa semanal, com 150 mil exemplares de tiragem e circulação exclusiva na Coréia do Sul, onde é amplamente prestigiado.

"Estamos diante de um movimento de mão dupla, que dá oportunidade para que as pessoas se manifestem", diz Jorge Rocha, professor de Jornalismo Digital da Universidade Fumec, em Minas Gerais. O projeto Participatory Journalism: Práticas e Papéis dos Jornalistas na Internet, conduzido na universidade, prevê para 2007 a criação de um site de referência em jornalismo participativo, com auxílio da sociedade. Até o lançamento, o projeto pretende manter o foco em duas frentes: analisar outros veículos semelhantes e repensar o papel do jornalista.
Será que dá para confiar em um jornalismo feito por qualquer pessoa? Como fica a credibilidade das informações, base dos órgãos tradicionais da imprensa? O grande trunfo do jornalismo virtual é justamente sua abertura. Ele funciona como uma janela. Qualquer um pode verificar e contestar a veracidade dos fatos. Além de os textos serem editados e checados por jornalistas, o que garante a idoneidade às notícias é o esforço coletivo. Qualquer um pode modificar o que foi publicado, como na Wikipédia, a enciclopédia virtual. Possíveis erros e imprecisões podem ser alterados rapidamente, num sistema em que as pessoas controlam os textos umas das outras. Isso dinamiza a confecção das notícias.
A imprensa participativa tem possibilidades únicas. Um exemplo: o que acontece quando pessoas inteligentes e equipadas com um laptop ou um simples celular com câmera se encontram no cenário de um desastre? Nos lugares perigosos e inacessíveis onde ocorrem os acidentes, esses cidadãos podem ser mais rápidos que qualquer organização jornalística, mesmo que não ofereçam uma visão abrangente dos fatos. As melhores fotos dos atentados no metrô de Londres, em julho de 2005, foram feitas por passageiros presos nos trens. Os primeiros relatos dramáticos dos bombardeios em Beirute foram postados por pessoas comuns. Seu grande valor é a autenticidade.
Os primeiros relatos dramáticos de Beirute foram postados por pessoas comuns sob bombardeio

Assim como esses cidadãos-repórteres podem estar em toda parte, eles também podem ser os mais bem postos para divulgar eventos e problemas locais. É o leitor quem escolhe o que é mais importante, abrindo espaço para temas que a grande mídia pode julgar de interesse restrito. Um texto publicado no OhMyNews na semana passada informava sobre uma campanha realizada pela ONG Acdic para estimular o cultivo de alimentos em Camarões, país que importa grande parte do que a população consome. Outra notícia mostrava os bonecos e materiais de propaganda de Andrés Manuel López Obrador.
Candidato derrotado nas eleições mexicanas, ele ainda contesta o resultado das urnas, mas sumiu do noticiário internacional. Havia ainda o relato do drama de uma garotinha indiana pobre com um problema congênito no coração. Uma ONG tenta arrecadar fundos para que ela possa ser submetida a uma cirurgia. Tudo isso teria pouco destaque na mídia tradicional.

O jornalismo participativo também é eficaz para divulgar assuntos de interesse restrito, como desenhos animados japoneses ou lançamentos da Apple. "Aos poucos, haverá maior oferta de informações para públicos específicos", afirma Jorge Rocha. Hoje, boa parte do jornalismo participativo ainda se concentra em notícias relacionadas à tecnologia, exatamente porque o público-alvo é muito ligado à internet. Mas isso pode ser apenas o começo.

Dia Mundial do Blog - Escrever e Blogar é só começar!

Escrever e blogar é só começar

Tiago Cordeiro, Comunique-se, 1 de setembro de 2006

Escrever um diário, encarnar um personagem ou simplesmente redigir suas primeiras matérias. Em plena era digital, ser jornalista e não ser blogueiro é quase como ser brasileiro e não curtir futebol. Logo, você percebe que está em número cada vez menor. Atraídos pelas facilidades em se fazer um blog, vários profissionais da mídia aderem ao veículo. Alguns minutos para efetuar um cadastro e está lá: seu texto, imagem ou o que for está visível para o mundo inteiro.

E hoje é o seu dia, caro blogueiro, o Dia Mundial do Blog! A comunidade blogueira mundial lançou um blog que promoveu a data. O motivo de ser hoje é porque 3108 é o número que mais se aproxima do termo “blog”.

Há três anos, o Comunique-se lançou o Blog-se, o blog dos jornalistas e usuários do portal. Focas, repórteres da velha guarda e todos os tipos de profissionais da área escrevem nesse meio. No mês passado, o cartunista e jornalista Miguel Paiva se tornou o mais novo usuário da ferramenta.

“Tenho esse senso de observação e de reflexão muito forte por causa do meu trabalho. E, por isso mesmo, sinto uma imensa necessidade de me comunicar de outras formas. Quando o blog surgiu e foi todo esse sucesso, comecei a querer usar essa ferramenta”, afirmou Paiva ao Comunique-se quando seu blog foi lançado. O artista mostrou uma faceta menos conhecida de suas habilidades: as crônicas que dividem espaço com tiras e comentários dos personagens Radical Chic e Gatão de Meia Idade.

Comentários de personagens? Essa é apenas mais uma das liberdades que o Blog permite. Se muitos repórteres usam para extravasar aquela oculta verve literária, outros usam para trabalhar ainda mais.

“Não consigo ver um blog como um diário, sem conteúdo noticioso ou informativo”, afirma a jornalista Cristina Dissat. A blogueira criou o Fim de Jogo em 2004, um blog-se que cobre o que acontece depois dos finais de jogos no Maracanã. “Brinco de trabalhar e faço isso com a maior satisfação. Sinto que estou prestando um serviço. Fico angustiada quando estou fora a trabalho e não consigo acompanhar algum jogo, mas isso é inevitável”. A repórter já estuda alguma parceria para resolver a rotina intensa de trabalho.

“Os blogueiros são também excelentes leitores. A blogosfera, aí esta o nome da coisa, é muito útil para quem atua em Comunicação Social. E os blogs em linguagem jornalística são muito capazes. Já têm muita influência”, afirma Thomaz Magalhães, dono do Trem Azul, o blog mais acessado do Comunique-se.

E para você que ainda não tem um blog, basta se cadastrar e acessar a seção Blog-se. Encerrando a homenagem aos blogs segue uma lista dos cinco blogs mais acessados do Comunique-se:

1- Trem Azul: Blog com opiniões sobre cultura e política - “Bastante política”, afirma seu blogueiro – do jornalista Thomaz Magalhães. “Vou deixar de ser jornalista para ser só blogueiro e escritor”, afirma.

2- Papo de Mídia: Eduardo César é criador do site Papo de Bola e quis criar uma seção que falasse da imprensa esportiva. Em 2004, lançou o Papo de Mídia no Blog-se. O blogueiro ainda não fez a faculdade de jornalismo, mas isso, segundo ele, é questão de tempo. “Para muita gente, já sou jornalista, mas a verdade é que ainda não o sou. Ainda não comecei a faculdade de Jornalismo, mas quero fazê-la sim, para entrar no mercado pela porta da frente”.

3- São Paulo 451 Anos: Do jornalista Gaspar Bissolotti Neto. Essa semana, o blogueiro publicou vários posts para denunciar uma mobilização que incomodou sua rua, a "Manifesta Vila Mariana". “Os moradores da redondeza passaram a tarde toda reclamando. Esperamos que isso não volte a acontecer”, publicou.

4- Patolino: Sem grasnar, mas com muita objetividade, Eduardo Sander escreve notas com até três linhas com sua opinião sobre política e outros assuntos. O jornalista graduado pela Facha também dá espaço para falar de filmes e outros assuntos culturais. “Estou fora de uma Redação desde 2001, e não queria perder 'visibilidade' frente aos colegas que estão no mercado”.

5- Tudo Sobre Ivy: “A partir da necessidade de querer compartilhar minhas idiossincrasias para descobrir pessoas que se identificassem ou simplesmente se divertissem com as minhas observações”, revela a redatora publicitária Ivy Dias de Campos. Ela considera seu trabalho e sua atividade blogueira como “referências recíprocas” e descreve seu blog como uma válvula de escape.